Música para esta edição: Como uma onda - Lulu Santos // Minha tia Eliane amava essa música, lembro dela cantando como se fosse agora
Escrevo esta edição no domingo à tarde, sem saber ao certo se o texto vai ficar bom, se era isso mesmo que eu queria escrever. Ando muito cansada. Tudo o que eu mais queria na verdade era estar jogada no sofá assistindo Valéria, minha série conforto, mas a vida tem me atropelado.
Não posso reclamar, porque pedi trabalho e é isso o que está vindo até mim com facilidade, alegria e glória. Mas nas duas últimas semanas estou me sentindo como se uma onda enorme tivesse me dado um caldo, arrancado meu biquini e me tirado o fôlego. Calma aí, marzão, eu só queria molhar os pés!
Sem trégua, sem folga, sem respiro. Foi trabalho todo dia mesmo, foi reunião atrás de reunião, foi workshop, foi aula, foi apresentação, foi viagem, foi minha casa de cabeça pra baixo com reforma (e ainda tá tudo do mesmo jeito), (obras nunca se resolvem no tempo que prometem), (não sei por que acreditei que dessa vez seria diferente), (que ingênua)...
No meio desse oceano de coisas, veio algo que nenhuma agenda poderia prever: a morte da minha Tia Eliane. Acordei com chamadas perdidas da minha tia e uma mensagem da minha mãe. O choro veio como um tsunami.
A Tiliane não era uma pessoa fácil, muito longe disso, mas se teve alguém que viveu do jeito que quis, sem ouvir conselhos, foi ela. Não abaixou a cabeça pra ninguém, mesmo quando a situação não a favorecia. Totalmente autêntica, espontânea, uma alma livre e incompreendida. Criativa, jovial, meio louca. Tiliane do cabelo rosa, azul, verde, ruivo, grisalho. Tiliane das roupas largas, dos óculos grandes, dos anéis super legais. Tiliane que foi minha grande amiga na adolescência quando eu passava por todas as minhas crises emocionais e existenciais. Que entendia, que acolhia, que aconselhava, que tinha paciência pra ouvir as histórias, os rolos com namorados e os casos das amigas. Que me recebia de braços abertos em sua casa, e eu adorava dormir lá. Tiliane que foi a única da família a me apoiar nas artes desde o princípio, que nunca jogou um balde de água fria nos meus sonhos e foi uma das minhas maiores fãs e incentivadoras incondicionais até o fim. Tiliane, suas caras e bocas, sua gargalhada imensa, um cigarro numa mão e um copo de cerveja na outra.
Após anos bem difíceis, sem conseguir falar e andar por causa de um AVC, finalmente ela descansou. No dia em que minha avó faria 100 anos, ela foi ao encontro da mãe para abraçá-la como tanto queria.
E eu? Eu tinha pela frente 4 horas de aula para 28 alunos da turma de Humor da SP Escola de Teatro.
Pensei em simplesmente avisar que não ia, pensei em chamar alguém para dar aula no meu lugar, pensei em pegar um avião pra Belo Horizonte, pensei em ir de ônibus mesmo, mas o que eu podia fazer em Belo Horizonte? O que eu podia fazer sozinha na minha casa? A realidade bateu à minha porta.
Lavei o rosto e comecei a me arrumar. Passei uma maquiagem leve por cima dos olhos inchados e coragem. Dentro do Uber a caminho, as lágrimas saíam sem que eu precisasse me esforçar.
Até o início da aula a dúvida me corroía. Será que eu falo pra eles o que está acontecendo ou só finjo que tá tudo bem, respiro fundo e bora lá? Mas não tive outra opção, fiz uma roda e fui o mais sincera possível. Segurando o choro mais uma vez, disse que eu não tava legal, que estava sendo um dia difícil pra mim. Eu disse, “não faz sentido eu ficar fingindo, estamos numa escola de teatro, a gente precisa se colocar vulnerável e se deixar sentir, então estou falando pra vocês que hoje não tá fácil pra mim e que talvez a aula seja um pouco diferente por causa disso.”
E aí aconteceu a coisa mais bonita.
Os alunos, jovens de 20 e poucos anos, artistas em formação, fizeram a maior demonstração de empatia e carinho possível. Cada um encontrou um momento oportuno de vir me dar um abraço e oferecer suas condolências. Teve gente que ofereceu mais de um abraço, e eu tava precisando muito mesmo daquilo. Muito, muito mesmo.
Essa atitude maravilhosa por parte dos alunos me fez resgatar um estudo que fiz há algum tempo sobre empatia.
Empatia é a capacidade de compreender e compartilhar os sentimentos, perspectivas e experiências de outra pessoa. Não se trata apenas de reconhecer o que o outro está sentindo, mas de conectar-se a esse estado emocional de maneira genuína e respeitosa. É como "colocar-se no lugar do outro", tentando imaginar o mundo através dos olhos deles.
Uma das pesquisadoras desse tema que eu adoro é a Brené Brown.
Ela explora profundamente os conceitos de empatia e vulnerabilidade como pilares para criar conexões genuínas entre as pessoas. Em suas palestras e livros, ela define vulnerabilidade como coragem.
Para se expor emocionalmente, mesmo diante do medo de rejeição ou julgamento, é preciso ter coragem. A vulnerabilidade é essencial para formar conexões autênticas, pois permite que as pessoas se apresentem como realmente são, sem máscaras ou perfeições.
Para se conectar com o outro, é necessário acessar partes de si mesmo que reconhecem e entendem a dor ou alegria do outro. Essa troca cria um vínculo profundo e significativo. Nada de tentar encontrar um lado positivo nos problemas e nas situações do outro. Em vez disso, basta simplesmente estar presente e compartilhar o espaço emocional, mostrando que quem sofre não está sozinho.
Eu senti na pele o que a empatia realmente significa. Meus alunos não tentaram consertar minha dor nem minimizar meu sofrimento. Eles só estavam presentes, oferecendo abraços, escuta e carinho. Foi um gesto simples, mas me resgatou. Foi assim que eu me senti vista, ouvida e muito valorizada.
Desafio da semana:
Um passo a passo pra te ajudar a desenvolver a sua empatia!
Passo 1: Escuta Ativa
Escolha uma conversa ao longo da semana. Durante essa conversa:
Evite interromper ou formular uma resposta enquanto o outro fala.
Concentre-se totalmente no que está sendo dito. Observe as emoções por trás das palavras.
Passo 2: Coloque-se no lugar do outro
Em uma situação em que alguém demonstra frustração ou tristeza:
Pergunte a si mesmo: "Como eu me sentiria se estivesse passando por isso? O que essa pessoa pode estar precisando neste momento?"
Evite tentar "consertar" ou dar conselhos imediatos, a menos que solicitado. Às vezes, o que o outro quer é apenas compreensão e companhia emocional.
Passo 3: Refletir e anotar
No final da semana, reserve um momento para pensar nas experiências. Pergunte-se:
Quais foram as reações das pessoas quando você agiu com empatia?
Como você se sentiu ao se conectar emocionalmente com os outros?
Esse exercício ajuda a transformar a empatia em prática cotidiana, trazendo mais conexão e significado para as relações. E para reforçar a reflexão, que tal escrever em um caderno ou diário as descobertas feitas ao longo da semana?
Obrigada por estar aqui.
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